Psicoterapeuta. - CRT 42.156

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Fernando Cesar Ferroni de Freitas

quarta-feira, 20 de maio de 2020

'Somos heroínas que chegam em casa e desabam': o relato de uma enfermeira em meio pandemia. Alessandra de Mello, formada em enfermagem há 27 anos, relata sua rotina em dois empregos em hospitais na Bahia após a covid-19.

No mesmo dia em que conversava com a BBC News Brasil, a enfermeira Alessandra Alencar Gadelha de Mello, 48, comemorava 27 anos de formada em Enfermagem.
Ela concilia dois empregos — à tarde, é enfermeira auditora em um hospital privado de Salvador (BA), auditando os processos e atendimento do hospital, e passa as manhãs em um hospital psiquiátrico da rede estadual baiana, onde faz controle de infecções.
Esse trabalho é particularmente sensível em meio à pandemia da covid-19, pelo constante temor de que algum dos pacientes portadores de transtornos mentais — que costumam ter um longo tempo de internação — se contamine com o novo coronavírus.
"Antes, nos preocupávamos com infecções, com antibióticos que causassem resistência de bactérias. Mas era rotineiro.
Com a pandemia, tivemos que readequar toda a estrutura do hospital psiquiátrico e refazer todos os treinamentos para cumprir com as normas da OMS e do governo do Estado, e para garantir que o paciente psiquiátrico não se infecte nem infecte os demais.
O hospital privado em que trabalho não é de referência, mas tem recebido casos de covid-19 por ser uma instituição de grande porte.
Então, quando saio para trabalhar de manhã, eu tento vencer o dia. Preciso que as equipes não se cruzem, que os pacientes não se cruzem. Que os protocolos não sejam quebrados, que os pacientes não sejam infectados, para salvaguardar a saúde deles e a nossa.
Tivemos dois casos suspeitos entre pacientes, que transferimos em tempo hábil. Hoje com muita felicidade, recebemos a notícia de que o teste deles deu negativo para o coronavírus.
Mas temos funcionários e servidores que se contaminaram.
Essa é a nossa maior preocupação: o grande número de profissionais da saúde infectados. É um grande medo pessoal, uma grande angústia, e que diminui muito a nossa força de trabalho na enfermagem.
Nos hospitais onde trabalho, estamos perdendo cerca de 40% da equipe. Estamos trabalhando com déficit de pessoas, e muitos estão cansados de dobrar os turnos para compensar essa ausência.
Recentemente, uma colega apresentou sintom Às vezes eu preferiria estar em uma unidade de referência contra o covid-19, em que você já sabe qual é o perfil do paciente que vai chegar, do que ficar nesta tensão de ser pega de surpresa ao se deparar com a doença.
No hospital psiquiátrico, estamos equipados e com máscaras, mas não tão paramentados como estão os profissionais de UTI.

¨eu vivo em alerta constante. Sempre que chega mensagem no meu celular, penso, 'meu Deus, será que algum paciente está com sintoma?'¨

Trabalho 12 horas por dia, porque, assim como muitos enfermeiros, tenho que ter vínculo (profissional) com mais de uma instituição. E não é porque a gente quer, mas porque a gente precisa. E é complicado abrir mão de um emprego no meio desta crise econômica.
E para muitos, entre uma jornada e outra entre os hospitais, tem o medo de se contaminar no transporte público.

¨também penso muito também no pós-pandemia. Agora é o momento em que a infectologia está em alta, mas depois vai ser a vez da psiquiatria. Porque, quando tudo isto passar, teremos muitos profissionais adoecidos. Tenho colegas que não conseguem mais sair de casa, de tão apavorados, exauridos.¨

As pessoas dizem que somos heroínas, mas a gente se pergunta, meu Deus, que heroínas são essas que chegam em casa e desabam?

E em casa, o medo é grande também. Minha filha acabou de se formar em Medicina e dá plantão em hospital de referência no tratamento da covid-19. Então fica ela preocupada comigo, e eu preocupada com ela."

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