Psicoterapeuta. - CRT 42.156

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Fernando Cesar Ferroni de Freitas

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Medicalização em um serviço público de saúde mental: um estudo sobre a prescrição de psicofármacos.

Resumo

Notícias de que a quinta versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSMV) deverá trazer uma ampliada listagem das possibilidades diagnósticas têm aquecido o debate sobre
uma tendência, reconhecível em práticas psiquiátricas contemporâneas, de enquadrar em diagnósticos
psiquiátricos mal-estares comuns da vida cotidiana e submetê-los a tratamento psicofarmacológico.
Este artigo traz a essa discussão dados de uma pesquisa de campo sobre a prescrição de
psicofármacos no atendimento psiquiátrico de um serviço público de saúde mental. Os resultados
mostram que a psiquiatria do serviço mantém sob prescrição de psicofármacos praticamente todos os
seus usuários e que as altas são raríssimas. O artigo organiza elementos críticos a essa prática e conclui
por sua inadequação face aos objetivos de promoção de cuidados personalizados atentos à autonomia
e aos preceitos de cidadania presentes nas atuais diretrizes nacionais das políticas públicas de saúde
mental.

"O serviço prestado por estas substâncias na luta
pela felicidade e no afastamento da desgraça é tão
apreciado como um benefício que tanto indivíduos
quanto povos lhe concederam um lugar permanente
na economia de sua libido
Freud (1930/1980, p. 86).
Quando, ainda nas primeiras décadas do
século XX, o criador da psicanálise teceu as
considerações acima, pretendia destacar o
papel auxiliar dos alteradores químicos do
psiquismo, substâncias de uso comum em
todas as culturas, no enfrentamento do
sofrimento psíquico que reputava próprio à
condição humana (Freud, 1930/1980). Não
poderia, no entanto, supor que certos tipos
desses alteradores, os psicofármacos,
viessem a se tornar uma verdadeira panacéia
no enfrentamento de todo o tipo de malestar social em nossa civilização, revelando a
propensão a substituir por pílulas coloridas
toda a reflexão que o mestre dedicava para
compreender o drama humano e minorar a
condição trágica de sofrimento que lhe
considerava inerente.
De fato, vários autores consideram que,
na contemporaneidade, qualquer sinal de
sofrimento psíquico está sujeito a ser
transformado em objeto de práticas médicas
limitadas a sumárias rotulações diagnósticas
quase sempre acompanhadas pela prescrição
de algum tipo de psicofármaco fadado a
promover sua cura (Caponi, 2012; CostaRosa, 2011; Ferrazza et al., 2010; Rabelo,
2011). À mercê desse reducionismo pouco
atento às complexidades do ser humano,
essa tendência que propala seu
embasamento na moderna neurofisiologia
tem promovido a banalização do uso de
psicofármacos como principal característica
do processo de medicalização da existência
humana na contemporaneidade (Soares &
Caponi, 2011; Tesser, 2010).
Nessa perspectiva, questões relativas ao
cotidiano e que envolvem aspectos comuns
relacionados à subjetividade e à existência
humana vêm sendo transformadas em
queixas de âmbito médico-psiquiátrico, em
sintomas de supostos transtornos e,
finalmente, em categorias diagnósticas que
sustentariam as indispensáveis prescrições
psicofarmacológicas, fenômeno que muitos
autores consideram relacionado a uma trama
de interesses corporativos que envolvem a
medicina e indústria de medicamentos
(Amarante & Carvalho, 2000; Angell, 2007;
Baroni et al., 2010; Caponi, 2009; Cosgrove
& Krimsky, 2012).
Esta preocupação tem-se acentuado com
as notícias sobre a iminente publicação do
novo Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-V). Considerado
a “bíblia” da psiquiatria moderna, a nova
versão de tal manual deverá estabelecer a
ampliação do número de possibilidades
diagnósticas e poderá trazer um aumento
expressivo das possibilidades de
enquadramento psiquiátrico e das
consequentes prescrições de psicofármacos....."

Segue a reportagem pelo link abaixo em PDF.



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