Psicoterapeuta. - CRT 42.156

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Fernando Cesar Ferroni de Freitas

quinta-feira, 24 de maio de 2012


Álcool

O comprometimento à saúde gerado pelo uso indevido de bebidas alcoólicas segue algumas etapas clássicas: sensibilização, uso abusivo, dependência.

A sensibilização acontece na juventude, quando beber, e beber muito, significa aceitação pelo grupo, popularidade, poder. Os estudos mostram que quanto mais jovem o indivíduo no momento que se expõe a substâncias psicoativas, entre elas, a principal é o álcool, tanto pior o prognóstico para o desenvolvimento de uma dependência. Isto pode ser compreendido no plano psicológico, pois o indivíduo aprende a reagir sempre da mesma forma diante de qualquer estímulo do meio. Isto é, seja o estresse maior ou menor, agradável ou desagradável, a resposta do indivíduo será sempre buscar o álcool - ou outra droga - para obter alívio de seu desconforto. Assim, o jovem não aprenderá a se conter quando oportuno, a brigar quando necessário, a argumentar nas suas relações pessoais e profissionais. Apenas saberá alterar seu vínculo com os fatos da vida através da ingestão de álcool. De forma correspondente, no plano biológico, ocorre uma mudança estrutural nas células e na comunicação entre elas, sem o desenvolvimento natural de outras vias de transmissão da mensagem, repetindo sempre o mesmo circuito.
O hábito de beber é incentivado através de propaganda, filmes e grupos que não têm alternativa para o lazer. O uso abusivo pode durar muitos anos, e a mudança deste estado para a dependência ocorre de forma tão sutil, que passa despercebida.
O fígado humano é capaz de metabolizar uma determinada quantidade de álcool por hora, com este conhecimento, já se sabe que o homem adulto, consegue metabolizar até três doses de álcool num dia; e a mulher adulta, cerca de duas doses.  Isto, considerando um homem e uma mulher de tamanhos médios; e cada dose se refere a um copo/cálice/lata determinado para cada bebida alcoólica.
Portanto, a dependência do álcool, ou o alcoolismo é uma doença adquirida pela repetição de um hábito. Trata-se de uma doença crônica, porque consiste de uma alteração fisiopatológica que, depois de instalada, é irreversível, podendo ocorrer recaídas mesmo após longos períodos de abstinência. Esta doença consiste de busca compulsiva e incontrolável, em que o uso do álcool persiste apesar das conseqüências negativas para o indivíduo.
Para se estabelecer a suspeita de dependência de álcool, algumas perguntinhas básicas (teste CAGE) são fundamentais:
1. Alguma vez o (a) Sr. (a) sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber?
2. As pessoas o (a) aborrecem porque criticam o seu modo de beber?
3. O (A) Sr. (a) se sente culpado (a) (chateado consigo mesmo) pela maneira como costuma beber?
4. O (A) Sr. (a) costuma beber pela manhã para diminuir o nervosismo ou a ressaca?
No caso de duas respostas afirmativas, o uso de álcool é considerado de risco, mas ainda não é um diagnóstico, que só será firmado por um profissional especializado.
O grau de intoxicação varia conforme dois fatores; a quantidade de bebida ingerida e o tempo decorrido desde a ingestão. O pico de concentração sanguínea máxima é atingido entre 30 e 90 minutos, e é retardada pela ingestão concomitante de alimentos.
As bebidas alcoólicas são eliminadas do organismo de forma complexa: até 10% do álcool ingerido é excretado de forma inalterada pelo suor e pela urina. A maior parte, até 90%, é metabolizada no fígado na primeira etapa para a forma de acetaldeído, responsável por aquele hálito característico, chamado tecnicamente de hálito cetônico. Esta substância resultante é metabolizada em segunda etapa pela enzima aldeído desidrogenase.
O fígado, em média, só consegue metabolizar 10ml de álcool por hora, enquanto isto o álcool continua em circulação por todo o corpo inclusive o cérebro, provocando os seguintes sintomas em ordem de menor para maior gravidade: euforia e excitação; alterações da atenção; alterações da coordenação motora; labilidade emocional; seguidos de piora de todas estas alterações; náuseas e vômitos; amnésia; baixa da temperatura corporal; anestesia; coma e morte.
No passado, era comum acontecer de pessoas intoxicadas procurarem os pronto-socorros e receberem glicose na veia. Este conceito já caiu em desuso, pois este procedimento pode causar prejuízos ainda maiores ao cérebro. O que se sabe, com certeza, é que qualquer quantidade de álcool diminui a vitamina B1 (tiamina) do organismo, e que, no caso de grandes ingestões de bebidas alcoólicas, é importante repor esta carência para proteger todo o sistema nervoso dos prejuízos causados pelo álcool ingerido em grandes quantidades.
Quando a dependência de álcool está adiantada, pode surgir um quadro de sintomas chamado de Síndrome de Abstinência Alcoólica. Para diferenciar os conceitos, é importante esclarecer que a palavra Abstinência isoladamente, significa o ato de abster-se, de privar-se do uso de alguma coisa ou ainda a privação voluntária dos desejos sexuais, seja por preceitos religiosos, em busca do aprimoramento moral ou espiritual, seja a privação, voluntária ou não, de substâncias tais como álcool, heroína. Por outro lado, a Síndrome de Abstinência é um quadro grave e agudo, que se inicia cerca de 6 a24h após a diminuição ou a suspensão do consumo de bebidas alcoólicas, compromete todo o metabolismo da pessoa, caracteriza-se por um conjunto de sintomas, e nem todos podem estar presentes:

  • agitação;
  • ansiedade;
  • alterações de humor (como irritabilidade ou depressão);
  • tremores;
  • náuseas;
  • vômitos;
  • taquicardia;
  • hipertensão arterial;

As convulsões são outra complicação do uso abusivo e crônico de bebidas alcoólicas e costumam ser do tipo Grande Mal, isto é, tônico-clônicas, quando a pessoa fica com a musculatura rígida, cai, para em seguida passar a se debater. Na maior parte das vezes são episódios isolados e podem ocorrer nas primeiras quarenta e oito horas após a suspensão da substância (mais freqüentemente entre 13 e 14 horas). Uma vez sensibilizado o cérebro, o risco de a convulsão ocorrer novamente em seis meses é de 41%, e em três anos é de 55%.
A Síndrome de Abstinência Alcoólica pode se complicar pelo Delirium Tremens, que, como o nome diz, associa um estado toxi-confusional em que aparece o delírio vívido, com tremores e outras alterações somáticas. Neste caso, a pessoa corre grave risco de vida e deve ser tratada num pronto socorro com recursos clínicos. Ocorre em menos de 5% dos dependentes de álcool quando suspendem o uso, com piora significativa no começo da noite. Os pacientes apresentam vivência delirante, com fala incoerente, demonstram sofrer alucinações visuais e outras distorções da percepção da realidade. Também acompanham agitação; ansiedade; alterações do humor; tremores; náuseas, vômitos; freqüência cardíaca e pressão arterial aumentadas. 
Exames de detecção do álcool no organismo:
Para as pessoas que consomem bebidas alcoólicas de forma esporádica, o intervalo de tempo para detecção na urina é de 6 a 48 horas. Até 30 minutos da ingestão ainda não há eliminação de álcool pela urina. 
Na circulação do sangue o álcool atinge a concentração máxima entre 30 a 90 minutos. A dosagem da concentração de álcool no sangue - (CAS) ou alcoolemia - costuma ser usada apenas como teste de confirmação.
No bafômetro a concentração de álcool no ar expirado é medida por uma fonte infravermelha, lembrando que até 10% do álcool no organismo é eliminado desta maneira.  
Por outro lado, estas dosagens podem ser muito diferentes para as pessoas que consomem bebidas alcoólicas com muita freqüência, porque o metabolismo está alterado: a eliminação total do etanol se faz num período máximo de 48 horas. Nestes casos é importante realizar exames complementares para verificar o grau de desequilíbrio metabólico do paciente.

Referências
  • pubs.niaaa.nih.gov/publications/aa63/aa63.htm
  • Maciela C, Kerr-Corrêa F - Psychiatric complications of alcoholism: alcohol withdrawal syndrome and other psychiatric disorders -Instituto de Educação Continuada da PUC Minas e FATEC - MG; Faculdade de Medicina de Botucatu, Unesp - Rev Bras Psiquiatr 2004;26(Supl I)
  • http://www.ualberta.ca/~kgtodd/
  • van den Brinka W, van Reeb J M. Pharmacological treatments for heroin and cocaine addiction - European Neuropsychopharmacology 13 (2003) 476-487 www.elsevier.com/locate/euroneuro
  • Laranjeira R, Nicastri S, Jerônimo C, Marques AC. Consenso sobre a Síndrome de Abstinência do Álcool (SAA) e o seu tratamento http://www.alcoolismo.com.br/deli.htm
  • Laranjeira R - coordenador - Usuários de Substâncias Psicoativas, Abordagem, Diagnóstico e Tratamento. CREMESP/AMB, 2ª edição 2003

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