Psicoterapeuta. - CRT 42.156

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Fernando Cesar Ferroni de Freitas

quinta-feira, 6 de julho de 2017

REBITE UNIVERSITÁRIO

Enquanto as alterações que drogas como Stavigile, Venvanse e Ritalina causam não são claras, nas faculdades de medicina o fácil acesso cria uma cultura de uso indiscriminado


Livros abertos, caneta e papel a postos, um copo d’água e um comprimido. Esse é o ritual de Hélio*, 20 anos, em quase todas as vésperas de prova na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Na última, em um domingo em que já passava da meia-noite (a prova seria na manhã seguinte, às 8 horas), ele sentia a atenção redobrada graças ao Stavigile, um medicamento à base de modafinil, usado para tratar sonolência diurna. "Não senti nenhum poder especial, mas é realmente estimulante, como se tivesse tomado uma droguinha", conta. Adepto de um outro remédio controlado, a Ritalina, era a primeira vez que o estudante experimentava o modafinil, que encontrou entre as coisas do pai. "Achei bem melhor. Ritalina me tira a fome, dá taquicardia e não me parece muito constante."

Não é a primeira, nem a segunda, nem a última vez que Hélio ou qualquer outro estudante de medicina se sujeita à automedicação e ao uso indiscriminado de substâncias com nomes como modafinil e metilfenidato em busca de uma turbinada no cérebro – prática conhecida pelo termo técnico "neuroaprimoramento". Para quem quer vestir o jaleco branco, os estimulantes surgem como solução muito antes da graduação. Caetano*, 24, que hoje está no quarto ano de medicina na Unicamp, chegou a ingerir um comprimido por dia enquanto estava no cursinho. "Com Ritalina, conseguia estudar por muito mais tempo sem ter fadiga física ou mental. E se queria estudar à noite, tomava mais meio", lembra. Nessa época, Caetano acordava com o remédio, usado para tratar transtorno de déficit de atenção, e só pegava no sono depois de dois ou três comprimidos de Dramin

Há uma crença de que remédios como Stavigile, Venvanse, Provigil, Eranz, Concerta ou Ritalina – receitados para pessoas com déficit de atenção, hiperatividade, narcolepsia, entre outros diagnósticos – aumentem a produtividade e a atenção de quem precisa estudar ou trabalhar por horas a fio. Eles atuam no sistema nervoso central acelerando a liberação de hormônios como dopamina, noradrenalina e norepinefrina, que controlam, entre outros fatores, o humor, a ansiedade e o sono. O efeito não é nenhuma novidade. Anfetaminas são usadas com esse propósito há décadas, mas essas outras substâncias, muitas vezes chamadas de "drogas da inteligência", não são associadas diretamente ao "rebite" ou à "bolinha" de alguns anos atrás – embora Concerta e Ritalina, por exemplo, sejam compostos por metilfenidato, que é, exatamente, um tipo de anfetamina.

Venda sob prescrição médica. Atenção:

Pode causar dependência física ou psíquica.

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